Arc"thanks" ki !!

Arc"thanks" ki !!
Thanks to Tomasz and Michal of Arctowski Polish Antarctic Station

22 e 23 de Março - a Saga do retorno

15 de Março - a redenção

2010/03/19

16 a 19 de Março - a rendição

16-19/03 - rendemo-nos ao frio avassalador, e à imprevisibilidade de resultados no duelo constante entre necessidades da logística e peculiaridades do clima polar. Em 16 e 17 a EACF permaneceu de portas fechadas, tendo encarado rajadas de vento de até 65 nós, com média na faixa dos 30-40 nós. Esse nosso "Day After" do mergulho de 15/03 teve o seu toque de apocaliptico, definitivamente. Na tarde do dia 17 São Pedro foi descansar e pudemos reiniciar o planejamento de atividades externas, tendo-nos sido comunicado que o Ary Rongel prestaria apoio de mergulho na manhã do dia 18. Avarias no motor de popa de um dos botes, somadas ao fato de que nossos parceiros de mergulho estavam em faina de carga desde 05:00-06:00h da madruga, convenceram-nos que era mais adequado transferir a atividade de mergulho para as 14:00h. Eduardo entrara na roupa de mergulho às 08:00h e assim permaneceu até as 14:30-15:00h quando finalmente pulamos n'água, como de costume, já semi-congelados (aclimatados ...). O problema de um 2° mergulho polar é que inevitavelmente ele será comparado ao 1°. Desta forma, a minha avaliação deste 2o mergulho, e a de Welington, que teve neste seu 1o mergulho, são diametralmente opostas, conforme comentários abaixo. Quaisquer sonhos de nova imersão no dia 19 foram minados na reunião noturna do dia 18, quando nos foi comunicado que aquele fora o mergulho com o qual teríamos que nos contentar, dos 12-16 pleiteados em nossos formulários logísticos à SECIRM. Depois desta 2a incursão ao continente gelado, fica a impressão de que a viabilização de uma dúzia de mergulhos, a se manter o atual esquema logístico do PROANTAR, depende de uma estada de pelo menos 2-3 meses embarcado, valendo-se de infraestrutura de mergulho disponível no Ary Rongel, ou na estação, neste caso contando com a simpatia de nossos vizinhos de Baía do Almirantado, os companheiros de Arctowski. Dia 19 foi então dia de concluir identificações preliminares, elaborar relatório sucinto de campo, fechar a marfinite do voo e as do Ary Rongel, e de dar uma blogadinha, que ninguém é de ferro. 


Portas fechadas, eis o que se via de frontal da estação, entrada principal, na manhã do dia 16. Lembrem-se do mar espelhado da véspera, e agora imaginem ondas e icebergs rolantes na praia em frente à EACF. Esse foi o contraste entre nosso Dia D e seu Day After. Coisa de louco!

O ponto alto do dia 16 - o almoço! Ainda bem que cheguei cedo, pois não houve camarão para todos. Aliás, como comemos camarão nestes dias?! Antes destes houve camarão frito como belisco de festinha, e também como bobó, onde custava-se encontrar algum aipim. Taí algo de que não se pode reclamar. Descontado o mocotó, fomos tratados a acepipes.

Welington se rende ao tédio no dia 17, e encara o joguinho de tabuleiro da EACF (para quem não tem absolutamente nada mais para fazer, o que imagino que em meu caso só venha a ocorrer depois da 3a leitura completa da biblioteca da estação). Além dele, Flávia, Juliano e Fernando. Ela passará o inverno na estação. Talvez alguém tenha ciúmes, mas este não sou eu, lhes garanto.

O saldo da fúria climática dos dias 16 e 17.

Dia 18, a postos, no local e hora combinados. Nós seríamos trasladados ao Ary Rongel, a partir de onde montaríamos nossa operação de mergulho com apoio dos mergulhadores da Marinha. Não é fácil encontrar uma praia com "areia" tão branquinha! E o pé, desde cedo no processo de congelamento gradual. Desta vez, porém, utilizei aquecedores químicos por cima das mãos e pés (sobre luva e meia, respectivamente). Foto: W. Vieira.

No célebre laboratório à ré do Ary Rongel, Welington dá os últimos ajustes no regulador (US Divers - Glacia) de Eduardo, adquirido em Bruxelas para os mergulhos que faríamos na OPERANTAR XXVII. Infelizmente, o 2° estágio apresentou leve free-flow, que precisará ser revisado no Rio de Janeiro.


Momento em que duas de nossas marfinites são içadas do Ary Rongel para a chata que as conduziria à EACF. Estavam no Ary porque no plano original é aí que nós estaríamos sediados. As mesmas continham nosso material de laboratório (inclusive meu microscópio pessoal, aí, pendurado sobre esse mar gelado ...) e as esponjas obtidas na 2a fase da OPERANTAR XXVIII (Dezembro 2009), coletadas por dragagem e box-corer. Foto W. Vieira.

Faina de transferência dos equipamento de mergulho do Ary Rongel para os botes BigKrill que apoiariam nossa atividade de mergulho. No bote, o Comte. Walter Oliveira de Souza, que assistiu ao Welington como dupla. Eduardo fez dupla com o mergulhador Paulo Cesar Nazaré. Vale esclarecer aqui que os tanques desceram com os coletes equilibradores acoplados, em alguns casos com lastro integrado. O meu sistema pesava os 15kg do lastro, outros tantos do cilindro, e uns 4-5kg do colete. Absolutamente peso pluma! A escadinha do tipo parede de escalada só perde para a do Almte. Maximiano, que tem o dobro da altura. De qualquer forma, não é uma via para trânsito pesado. Cada qual com seu corpo, e já está de bom tamanho.

Quem te viu? Quem te vê? Essa foi a única imagem subaquática obtida por Eduardo deste memorável mergulho de 10min, 599 segundos dos quais dispendidos na luta inglória para permanecer no fundo. Se ao menos tivesse sido possível dispender 2s com a foto, possivelmente estaria bem melhor. Pese aqui também o fato de que o fundo de lama com uma alga aqui e outra ali, um ouriço aqui outro lá, não facilita muito a escolha do alvo a clicar. Aos que estiverem vendo esta imagem, meu aviso. Trata-se de uma morta-viva! O mergulho foi o que foi, mas pderia ter sido infinitamente pior. Na superfície percebi que minha companheira, que eu julgava até então inseparável, separara-se de mim. Aonde diachos estava a Canon G10? A resposta era óbvia. Aparentemente ela estava curtindo o mergulho mais que eu, e resolvera prolongar sua estada no fundo algo mais. Câmera gagá essa!! Será que ela ainda não se deu conta de que não sabe voltar sozinha para casa?! Foi quando São Nazaré entrou em cena, e falou um "Deixa comigo!" ou qualquer coisa parecida. Um ou dois minutos depois lá estava ele na superfície com a câmera gagá nas mãos! E de repente o saldo do mergulho passou a parecer bom. Afinal, não é só pelos 20 dias longe de casa que eu poderia considerar que um mergulho minimamente razoável precisa de pelo menos umas 3-4 esponjas coletadas. O fato é que este foi o 2° mergulho em cerca de dois anos em que não enxerguei uma esponja sequer.

Fim de festa. Eu, sem picolé (esponjas) mas feliz com minha Caloi (Canon). Welington estasiado com seu 1o mergulho antártico, achando que foi fácil demais e querendo mais. Comte. Walter e Nazaré aquecendo-se na sala Rio 40°. Ambos BigKrill à espera de novas ordens.

Depois de São Nazaré, foi a vez de São Welington mostrar as caras. Em sua incursão aos 25m de profundidade encontrou esta esponja, filha única, que identificamos como Iophon cf. unicorne Topsent, 1907, já tombado com o número MNRJ 11177. Parte do indivíduo destinou-se a estudos com microorganismos associados, no âmbito do INCT da Criosfera. Estamos considerando a opção de aprofundar nossos estudos neste gênero dada a diversidade de representantes no Cone Sul da América do Sul e Antártica. Este poderá ser um bom modelo para estudos biogeográficos.

Dia 19, como dito acima, foi um dia de fainas internas, com algumas poucas fotos obtidas pelas janelas e portas da estação. Nesta, por coincidência, flagrei uma foca praticamente no momento em que ela se decidiu por voltar à água. Imaginem um salame sobre o iceberg. Alguém diria que é uma linguiça. Outro, um salsichão. Mais alguém, uma linguiça calabreza. Enfim, provavelmente não haveria consenso. Com focas ocorre exatamente o mesmo. Disseram-me que se tratava de um elefante marinho. Depois ouvi que haviam dito ser uma foca-leopardo. Em suma, aquilo que praticamente não se vê na foto é um animal roliço, indeterminado.

Dia 19 o frio ainda mostrava suas garras.

T = -1°C
Direção do vento = E
Intensidade = 24 nós

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são bemvindos

Estações de Mergulho 2008-2009

Estações de Mergulho 2008-2009
adaptado de SIMÕES JC, ARIGONY NETO J & BREMER UF (no prelo)