Arc"thanks" ki !!

Arc"thanks" ki !!
Thanks to Tomasz and Michal of Arctowski Polish Antarctic Station

22 e 23 de Março - a Saga do retorno

15 de Março - a redenção

2010/03/21

20 e 21 de Março - fechando as malas

20/03 - Nova tormenta nos obriga a curtir mais um dia de apreciação da paisagem através das janelas... porém, os modelos climatológicos previam melhora do tempo para Domingo, o que permitiu abortar sem maiores traumas a faina de Sábado de embarque de carga no Ary Rongel.

Atendendo a pedidos, aproveitei para documentar as instalações da EACF, neste momento invadida por neve que a adentrava por quaisquer frestas que houvesse. Parte desta pilha de Marfinites já se destinava ao 7o voo, previsto para deixar Frei em 22/03.



Se você olha para esta imagem e detecta dois OVNIs na janela da direita, você provavelmente sofre do mesmo mal que acomete quem permanece muito tempo na Antártica. Em nosso caso, é sinal de que está na hora de partirmos.

O alojamento que nos coube, "arrumado" à moda do freguês. Comecei arrumando a cama todos os dias, depois adotei a religião de meus companheiros de Sinfonia Roncatória. Porém, destacava-me pelo fato de ter a maior parte de minha bagunça dentro do armário, ao passo que o resto da turma espalhava pelas camas mesmo.

Coquetel de troca do GB. Mais uma longa rodada de acepipes e discursos, em meu caso abortada à 01:30h da matina, quando muitos ainda atacavam pastéis com voracidade. E lá se foi minha 2a e última garrafa de Medalla Real da Vinícola Santa Rita.

Em 1° plano, Comte. Medeiros, atual Sub-Secretário para o PROANTAR. Em 2° plano, Chefe Daros, do grupo Argo, que chefiará a EACF até Março de 2011.

Momento em que os pesquisadores que partirão no 7° voo são homenageados no coquetel. Desta vez o grupo estava meio desfalcado, cabendo a mim o papel de Pesquisador Senior. No centro, Flávia, da UFPR, uma das guerreiras que enfrentará o inverno antártico (pela 2a vez!), enaltecendo o papel da pesquisa na EACF.

À esquerda, Chefe Glênio, atual chefe da EACF, que deixará o posto nas mãos do Chefe Daros. Glênio deverá assumir o papel de responsável pela logística do PROANTAR, com assento em Brasília, e inevitável participação nas próximas OPERANTARes. À direita, o Comte. Márcio Leite, novo Sub-Secretário para o PROANTAR, com o qual todos contamos para que a pesquisa antártica brasileira continue crescendo em tamanho e qualidade.


21/03 - despedida. Muito sono decorrente da noitada da véspera. O Blog voltou ao ar, assim como MSN, ORKUT e outros, para quem aprecia. Todos haviam sido bloqueados pela Marinha na véspera. Dia para tentar uma caminhada. Dia para contabilizar nossos ZERO dias de sol nesta estada. Dia para certificarmo-nos que Marfinites e bolsas de viagem foram efetivamente trasladadas ao Ary Rongel, pois o ideal é que se carregue o mínimo possível de tralha quando de nosso traslado em bote até o navio. Especialmente se o tempo não estiver muito bom. Depois de despachar tudo e mais alguma coisa, ainda me sobraram uma mochila grande e outra pequena. É bom que o mar esteja tranquilinho ...

Situação das motocicletas de neva Ski-Doo após a série de nevascas que tivemos. Suponho que finda a faina de carga no navio as mesmas retornem ao interior da EACF para limpeza e guarda.


Iniciada a caminhada, 1a parada: dois gelos com histórias distintas para contar. Alguém poderia postar um comentário, por gentileza, que explique qual a razão de ambos terem aspecto tão distinto? Posso contribuir com alguma informação em relação ao da esquerda. Achei um pedacinho parecido, que após análise com papilas gustativas, provou estar recoberto por fina camada de água salgada, sendo todo o resto absolutamente doce. Lamento não ter completado o experimento, aplicando o teste das papilas no da direita também. Posso acrescentar que ambos eram gelados.


O filme era colorido, mas o resultado é 100% P&B!


Welington aprecia a paisagem a caminho de Punta Plaza, à pequena distância de uma turma de pinguins papua.


Punta Plaza é realmente um lugar muito convidativo para a realização de um mergulho. Está em nossos planos para o regresso.


Este ano praticamente só havia dos papua. Nossa presença os incomoda só um pouco. Com 3m de distância já estão satisfeitos.


A baleia de Cousteau, desta vez desprovida do cinturão verde do ano passado.


Este que vos escreve, em auto-retrato.

Últimas atualizações climatológicas: depois de problemas em Pelotas, nosso Hércules já chegou à Punta Arenas. A previsão do tempo para amanhã, dia de nossa saída não é das melhores. Pode ser que embarquemos no Ary Rongel, mas o Hércules não nos recolha em Frei. Veremos. 

Meu celular segue vivo enquanto na EACF. Uma vez a bordo, já era. Bye-bye, so long. Aquela moleza da internet que encontramos no Almte. Maximiano, não deve se repetir no Ary, que é um navio mais rusticão.
Câmbio. Desligo.

2010/03/19

16 a 19 de Março - a rendição

16-19/03 - rendemo-nos ao frio avassalador, e à imprevisibilidade de resultados no duelo constante entre necessidades da logística e peculiaridades do clima polar. Em 16 e 17 a EACF permaneceu de portas fechadas, tendo encarado rajadas de vento de até 65 nós, com média na faixa dos 30-40 nós. Esse nosso "Day After" do mergulho de 15/03 teve o seu toque de apocaliptico, definitivamente. Na tarde do dia 17 São Pedro foi descansar e pudemos reiniciar o planejamento de atividades externas, tendo-nos sido comunicado que o Ary Rongel prestaria apoio de mergulho na manhã do dia 18. Avarias no motor de popa de um dos botes, somadas ao fato de que nossos parceiros de mergulho estavam em faina de carga desde 05:00-06:00h da madruga, convenceram-nos que era mais adequado transferir a atividade de mergulho para as 14:00h. Eduardo entrara na roupa de mergulho às 08:00h e assim permaneceu até as 14:30-15:00h quando finalmente pulamos n'água, como de costume, já semi-congelados (aclimatados ...). O problema de um 2° mergulho polar é que inevitavelmente ele será comparado ao 1°. Desta forma, a minha avaliação deste 2o mergulho, e a de Welington, que teve neste seu 1o mergulho, são diametralmente opostas, conforme comentários abaixo. Quaisquer sonhos de nova imersão no dia 19 foram minados na reunião noturna do dia 18, quando nos foi comunicado que aquele fora o mergulho com o qual teríamos que nos contentar, dos 12-16 pleiteados em nossos formulários logísticos à SECIRM. Depois desta 2a incursão ao continente gelado, fica a impressão de que a viabilização de uma dúzia de mergulhos, a se manter o atual esquema logístico do PROANTAR, depende de uma estada de pelo menos 2-3 meses embarcado, valendo-se de infraestrutura de mergulho disponível no Ary Rongel, ou na estação, neste caso contando com a simpatia de nossos vizinhos de Baía do Almirantado, os companheiros de Arctowski. Dia 19 foi então dia de concluir identificações preliminares, elaborar relatório sucinto de campo, fechar a marfinite do voo e as do Ary Rongel, e de dar uma blogadinha, que ninguém é de ferro. 


Portas fechadas, eis o que se via de frontal da estação, entrada principal, na manhã do dia 16. Lembrem-se do mar espelhado da véspera, e agora imaginem ondas e icebergs rolantes na praia em frente à EACF. Esse foi o contraste entre nosso Dia D e seu Day After. Coisa de louco!

O ponto alto do dia 16 - o almoço! Ainda bem que cheguei cedo, pois não houve camarão para todos. Aliás, como comemos camarão nestes dias?! Antes destes houve camarão frito como belisco de festinha, e também como bobó, onde custava-se encontrar algum aipim. Taí algo de que não se pode reclamar. Descontado o mocotó, fomos tratados a acepipes.

Welington se rende ao tédio no dia 17, e encara o joguinho de tabuleiro da EACF (para quem não tem absolutamente nada mais para fazer, o que imagino que em meu caso só venha a ocorrer depois da 3a leitura completa da biblioteca da estação). Além dele, Flávia, Juliano e Fernando. Ela passará o inverno na estação. Talvez alguém tenha ciúmes, mas este não sou eu, lhes garanto.

O saldo da fúria climática dos dias 16 e 17.

Dia 18, a postos, no local e hora combinados. Nós seríamos trasladados ao Ary Rongel, a partir de onde montaríamos nossa operação de mergulho com apoio dos mergulhadores da Marinha. Não é fácil encontrar uma praia com "areia" tão branquinha! E o pé, desde cedo no processo de congelamento gradual. Desta vez, porém, utilizei aquecedores químicos por cima das mãos e pés (sobre luva e meia, respectivamente). Foto: W. Vieira.

No célebre laboratório à ré do Ary Rongel, Welington dá os últimos ajustes no regulador (US Divers - Glacia) de Eduardo, adquirido em Bruxelas para os mergulhos que faríamos na OPERANTAR XXVII. Infelizmente, o 2° estágio apresentou leve free-flow, que precisará ser revisado no Rio de Janeiro.


Momento em que duas de nossas marfinites são içadas do Ary Rongel para a chata que as conduziria à EACF. Estavam no Ary porque no plano original é aí que nós estaríamos sediados. As mesmas continham nosso material de laboratório (inclusive meu microscópio pessoal, aí, pendurado sobre esse mar gelado ...) e as esponjas obtidas na 2a fase da OPERANTAR XXVIII (Dezembro 2009), coletadas por dragagem e box-corer. Foto W. Vieira.

Faina de transferência dos equipamento de mergulho do Ary Rongel para os botes BigKrill que apoiariam nossa atividade de mergulho. No bote, o Comte. Walter Oliveira de Souza, que assistiu ao Welington como dupla. Eduardo fez dupla com o mergulhador Paulo Cesar Nazaré. Vale esclarecer aqui que os tanques desceram com os coletes equilibradores acoplados, em alguns casos com lastro integrado. O meu sistema pesava os 15kg do lastro, outros tantos do cilindro, e uns 4-5kg do colete. Absolutamente peso pluma! A escadinha do tipo parede de escalada só perde para a do Almte. Maximiano, que tem o dobro da altura. De qualquer forma, não é uma via para trânsito pesado. Cada qual com seu corpo, e já está de bom tamanho.

Quem te viu? Quem te vê? Essa foi a única imagem subaquática obtida por Eduardo deste memorável mergulho de 10min, 599 segundos dos quais dispendidos na luta inglória para permanecer no fundo. Se ao menos tivesse sido possível dispender 2s com a foto, possivelmente estaria bem melhor. Pese aqui também o fato de que o fundo de lama com uma alga aqui e outra ali, um ouriço aqui outro lá, não facilita muito a escolha do alvo a clicar. Aos que estiverem vendo esta imagem, meu aviso. Trata-se de uma morta-viva! O mergulho foi o que foi, mas pderia ter sido infinitamente pior. Na superfície percebi que minha companheira, que eu julgava até então inseparável, separara-se de mim. Aonde diachos estava a Canon G10? A resposta era óbvia. Aparentemente ela estava curtindo o mergulho mais que eu, e resolvera prolongar sua estada no fundo algo mais. Câmera gagá essa!! Será que ela ainda não se deu conta de que não sabe voltar sozinha para casa?! Foi quando São Nazaré entrou em cena, e falou um "Deixa comigo!" ou qualquer coisa parecida. Um ou dois minutos depois lá estava ele na superfície com a câmera gagá nas mãos! E de repente o saldo do mergulho passou a parecer bom. Afinal, não é só pelos 20 dias longe de casa que eu poderia considerar que um mergulho minimamente razoável precisa de pelo menos umas 3-4 esponjas coletadas. O fato é que este foi o 2° mergulho em cerca de dois anos em que não enxerguei uma esponja sequer.

Fim de festa. Eu, sem picolé (esponjas) mas feliz com minha Caloi (Canon). Welington estasiado com seu 1o mergulho antártico, achando que foi fácil demais e querendo mais. Comte. Walter e Nazaré aquecendo-se na sala Rio 40°. Ambos BigKrill à espera de novas ordens.

Depois de São Nazaré, foi a vez de São Welington mostrar as caras. Em sua incursão aos 25m de profundidade encontrou esta esponja, filha única, que identificamos como Iophon cf. unicorne Topsent, 1907, já tombado com o número MNRJ 11177. Parte do indivíduo destinou-se a estudos com microorganismos associados, no âmbito do INCT da Criosfera. Estamos considerando a opção de aprofundar nossos estudos neste gênero dada a diversidade de representantes no Cone Sul da América do Sul e Antártica. Este poderá ser um bom modelo para estudos biogeográficos.

Dia 19, como dito acima, foi um dia de fainas internas, com algumas poucas fotos obtidas pelas janelas e portas da estação. Nesta, por coincidência, flagrei uma foca praticamente no momento em que ela se decidiu por voltar à água. Imaginem um salame sobre o iceberg. Alguém diria que é uma linguiça. Outro, um salsichão. Mais alguém, uma linguiça calabreza. Enfim, provavelmente não haveria consenso. Com focas ocorre exatamente o mesmo. Disseram-me que se tratava de um elefante marinho. Depois ouvi que haviam dito ser uma foca-leopardo. Em suma, aquilo que praticamente não se vê na foto é um animal roliço, indeterminado.

Dia 19 o frio ainda mostrava suas garras.

T = -1°C
Direção do vento = E
Intensidade = 24 nós

2010/03/16

13 a 15 de Março - entre churrascos e mergulhos

13-15 de Março - Sábado (13/03), seguimos com leitura de artigos, tentativa de obter preparações para microscopia das esponjas coletadas pelo César na Patagonia chilena (vejam postagem em http://proyectoesponjas.blogspot.com), e por fim, vendo aquele mar calminho ... resolvi fazer nova tentativa de entrada n'água, agora para testar também a câmera. Welington no apoio, desta vez tudo foi mais fácil, do entrar na roupa ao meter a cara n'água. A maré estava bem baixa, e assim, pela 1a vez pude observar um pouco do infralitoral. Uma alga aqui outra ali, um monte de isópodes minúsculos em "cardume", e a estrela do mergulho, um ctenóforo meio arrebentado. Melhor de tudo, com direito a algumas fotos e filmagens, das quais lhes pouparemos. Afinal, leve feito um balão, as marolas me transformaram em um iô-iô, com a consequência de que os vídeos e fotos estão censurados.

 A estação (EACF) mostra suas garras. Bela escultura consequencia do frio que imperava.

E voltamos para a água, desta vez com câmera em punho. A mesma embaçou um pouco, o que serviu de dica para como prepara-la para um mergulho oficial - mante-la no frio algumas horas antes do mergulho.

Domingo (14/03), dia dedicado à faina de ataque ao churrasco, para o qual haviam sido convidados os poloneses. Nossa expectativa era grande, pois dissera-nos o chefe Glênio que viriam dois mergulhadores, com os quais deveríamos conversar. E não deu outra! Iniciamos o ataque antes do reforço polonês, com destaque para captura e ingestão de alguns pedaços de carne de sol com manteiga de garrafa - uma verdadeira jóia da coroa em território antártico. Logo estavam chegando os 15-20 poloneses convidados. Por sorte perdi minha aposta com o Wé. Um dos mergulhadores não era o gigante de barba e aspecto de bárbaro, mas os gigantes de cavanhaque, e aspecto mais dócil. Tomasz Janecki (XG), o chefe da Estação Arctowski, e Michal Adamczyk (XXG), que entendi como sendo contratado para prestar serviços de mergulho. Do lado feminimo, uma tropa de louras, dentre as quais, naturalmente, em pleno churrascão, uma vegetariana ...

Cmte. Schumann (responsável pela logística do PROANTAR), entre os poloneses Michal (esquerda) e Tomasz, ambos mergulhadores. De nossas conversas surgiu de imediato o convite para mergulhar com eles no dia seguinte, que tinham planos de faze-lo de todos modos, e além do mais, possuiam equipamento completo para quatro pessoas, o que permitiria sanar as deficiências decorrentes da permanência de nosso equipamento no Ary Rongel. Tudo dependia da confirmação de tempo bom para o dia seguinte, e que o Chefe da EACF (Glênio) encontrasse condições de montar a logística envolvida no transporte para Arctowski (mínimo de dois botes e quatro tripulantes do GB). À noite escutamos extasiados que a previsão para toda a 2a f era de vento zero a próximo de zero - condições ideais!

Na reunião diária de 20:30h para planejamento do dia seguinte, descobrimos que havia mais interessados em ir para os lados de Arctowski, o que mais que justificou a montagem da operação. Eu e Welington íamos para o mergulho, três meninas iam pescar (Mariana, Priscila e Tânia) e Juliano ia ajudá-las, e Fernando iria desbravar o entremarés na esperança de encontrar invertebrados. Achamos um horário de maré que era mais ou menos conveniente para todos, e decidimos que a hora de saída da EACF seria às 11:00h.

Segunda-feira (15/05) - Logo cedo partimos para o check-up de cada peça do equipamento. Tanto o principal, que seria usado por mim, quanto o extra, que comporia o kit do Welington. A câmera havia passado a noite ao relento, dentro de uma estufa abandonada, e estava mais que aclimatada. Chegando próximo à hora conseguimos um "taxi" (quadriciclo pilotado por membro do GB) para levar a Marfinite até o bote na beira da praia. Nada mais prático! Os botes eleitos foram o Megakrill e um Foca-Leopardo, que só levava o Sub-chefe da EACF e o alpinista "Baixo", para alguma eventualidade. O mar estava um espelho e o frio uma navalha. Não havia gorro que protegesse. Se não tapo o nariz, congelo. Se o tapo, não vejo nada, porque o óculos embaça. Uma maravilha ... Mas entre um esquema e o outro, ia registrando aquela paisagem  deslumbrante na córnea e no cérebro, e um pouco também em meio digital, ou pobres de nossos seguidores. Como fica a divulgação científica? Não vá me dizer que vocês são do tipo que acham que cientista de verdade é aquele de jaleco segurando uma micropipeta em um laboratório clean, cercado de equipamentos que parecem cada qual custar mais que seu carro!! Ciência também se faz de sandálias havaianas, ou de nariz congelado! Vejamos um pouquinho deste outro lado da ciência.

Caminhando na praia na maré baixa, chegando junto ao ponto de onde partiria o Megakrill, reparamos que a praia estava coalhada de krill encalhado. Um camarãozinho interessante, com seus 5 cm de comprimento.

Eduardo entrando no clima - começando pela parte de baixo.

Pontapé inicial - uma tremenda prosopopéia logística para colocar o bote no mar. Reparem nesse mar!

O foca-leopardo a nosso lado, já cruzando a parte central da Baía do Almirantado, com uma profundidade de 300-400 m. Ao fundo, no canto direito, a Enseada Mackellar, onde se encontra a base peruana de Machu Picchu.

Chegada à Arctowski Polish Antarctic Station, onde descobri que o Sr. Arctowski, falecido em 1958, depois de vários anos de serviço na Smithsonian Institution, foi um dos integrantes da pioneiríssima expedição do Bélgica, comandanda por Adrien de Gerlache.

Dominique, eu e Welington, já no bote de Arctowski, a caminho da Ilha Dufayel na Enseada Ezcurra. Aqui ainda estávamos no lombo do reboque a trator.

A marcha lenta provocada pelo excesso de gelo nos propiciou alguns momentos indescritíveis de relacionamento com esta baleia minke, que parecia disposta a construir uma amizade conosco. Ela foi se aproximando de nosso bote até que praticamente podíamos encostar-lhe a mão. Foto W. Viera (vejam o vídeo!)

Uma foco alheia ao ronco de nosso motor. Talvez pensasse que tratava-se de outra foca dormindo seu sono pesado. Nossos colegas poloneses ficaram na dúvida entre foca-caranguejeira e foca de Weddell. 

Já na Ilha Dufayel - todos prontos para o mergulho, ou para aguardar nosso retorno, o que se deu 30 min após. Um mergulho complexo, que exige alguns diferenciais relativamente aos mergulhos normais, mas nada que não tenha dado para assimilar com 3-4 frases ditas de forma bem clara pelo Michal ainda na estação. (1) dois reguladores selados. (2) só respirar após submergir o primeiro estágio. (3) só inflar roupa e BC com jatos curtos de ar-comprimido. (4) iniciar a subida com 80 bar. Os tanques eram de aço inox, 15L. Eu carregava além deste, 19kg de chumbo e a câmera fotográfica. Resultado, me senti um mega membro da meiofauna. Me custou praticamente metade do mergulho conseguir equilibrar a flutuabilidade com os tais jatos curtos de ar-comprimido.

Isso não é foto-montagem. Estávamos realmente prestes a submergir nesta mescla de água e gelo.

20,9m de profundidade (chegamos a 25), 8 min de mergulho (chegamos a 30), 2°C. Acho que isso é o mais quente que a água podia estar. Até nisso estávamos com "sorte"!

O primeiro animal digno de nota foi esta anêmona, com diâmetro de uns 15-20cm. Bonita e comum.

Mas o megulho só começou a esquentar mesmo depois que começaram a aparecer as primeiras esponjas. Essa, uma possível Dendrilla antarctica Topsent, 1905. 

E essa estrelinha? Que tal? A escala branca tem 5cm, consequentemente a estrela tem bem mais que 50cm de diâmetro. A tal da simetria pentaradiada foi esquecida em alguma das curvas do caminho, suponho.

Welington não mergulhou porque a roupa XG e XXG dos poloneses não lhe servia. Mas obviamente curtiu. Aqui, nossa saida da Ilha Dufayel, e início de retorno à Arctowski.

Tomasz (de pé) e Michal no caminho de volta à Arctowski. Os dois foram super companheiros debaixo d'água, ajudando-me com o cinto de lastro que insistia em não segurar em minha "cinturinha de pilão". Não, peraí!! Eu não tenho cintura?! Mas como?! A roupa (DUI TLS350) é que é lisa que nem manteiga!!

Isso é mar ou uma poça de água estagnada? Este foi o visual da despedida da Enseada Ezcurra. Bem dizia o Sub-chefe Lôbo: "Ezcurra é o lugar mais lindo da Baía do Almirantado". Nós assinamos embaixo.


2010/03/13

10 a 12 de Março - em movimento


Depois de uma luta inglória com o YouTube, finalmente descobri essa boa e velha forma de agregar vídeos ao Blog. Se o "Big Brother" do Proxy da EACF não interferir mais uma vez nos acréscimos do 2° tempo, teremos um cineminha aqui.

2010/03/12

11 e 12 de Março - chegada à EACF e primeiros passos no Oceano Austral

11-12 de Março – Chegamos à Baía do Almirantado e à EACF. A 4ª f foi tomada pela apresentação, pelo Chefe Glênio, das normas e procedimentos da estação, um super almoço com direito a quindim (!!) de sobremesa, a instalação no Laboratório 4 e alojamento da biblioteca (é, ainda não dá para dizer que consegui um camarote), e à noite, coquetel de boas vindas para o novo GB (Argo). Na célebre reunião diária de planejamento de atividades para o dia seguinte, nos foi informado que teríamos ventos de não mais que 20 nós pela manhã, e zerados à tarde, o que viabiliza a realização de todas as atividades externas. Pedimos então permissão para testar a roupa de mergulho em frente à estação, o que foi aprovado sem necessidade de maiores argumentações. À noite, pela primeira vez em minhas estadas na EACF, uma nevasca que garantiu chão branco e poças congeladas na manhã seguinte. Este era o cenário armado para nossa primeira intromissão nas águas do Oceano Austral.

Amanhecer de 11/03, visto do Amte. Maximiano, com Punta Ullman à frente. O disco de luz seria algum efeito óptico sobre a lente da câmera?

A 5ª f se iniciou com nova rodada de ajustes na roupa seca e acessórios, para que o risco de alagamento fosse o mínimo possível, e garantia de conforto térmico, o oposto. O arsenal de defesas contra o frio inclemente inclui uma série de títulos, todos em inglês. A, dita, primeira capa, fabricada no Brasil, é de Polartec® Power Stretch®. O macacão térmico da DUI é confeccionado com Thinsulate Ultra™ (3M) de 400g/m2, protegido com AEGIS Microbe Shield®. O tema da propaganda da roupa seca é o seguinte (traduzido do inglês): “Se você é um Nadador de Resgate da Guarda Costeira dos Estados Unidos saltando de um helicóptero, um mergulhador técnico mapeando um novo sistema de cavernas, um mergulhador científico na Antártica, ou um mergulhador recreativo em qualquer final de semana, a (roupa) TLS350 pode lhe levar onde ninguém jamais chegou.” Que tal? Sua confecção é baseada em um trilaminado composto por nylon – borracha butílica – nylon. Apesar de toda esta tecnologia, havia um ponto obviamente fraco em nosso plano – a proteção facial. A cabeça não mergulha seca. Minimiza-se o tanto que ela vai molhar, mas é isso. E nosso plano era mergulhar com máscaras convencionais.

Eis o cenário preparado pela nevasca da véspera para nossa primeira incursão ao Oceano Austral. Tapete branco da EACF até a beira d'água.


Área escolhida inicialmente para a entrada, depois trocada por outra um pouco mais à direita. Desta distância não se enxerga com clareza a grande quantidade de "gelo casca de banana" que deveria ser atravessada antes de alcançarmos o mar.

Por volta de 10:00h eu estava pronto para tentar. Saímos caminhando pela neve, escorregando aqui e ali sobre o gelo, eu de cobaia polar, Welington de “cameraman”. Nos afastamos um pouco na direção do heliponto para escapar da grande quantidade de gelo acumulado em frente à EACF, mas também porque já que íamos para o “paraíso infernal”, que pelo menos houvesse alguns icebergs decentes para compor o enquadramento. E aí começou. Pisar na água foi fácil. Molhar a canela também. Caminhar até um iceberg próximo, com água acima do joelho, idem. Ajoelhar-se na água e molhar as costas e a barriga, a mesma coisa. Era hora de enfiar a cabeça na água. Tchibum! Máscara embaçada, cara congelada, água meio turva, fundo de pedregulhos e nada mais, decididamente não era uma experiência das melhores... Aí começa a doer a bochecha, a testa, etc, etc, etc, ... Dei uma boiadinha de costas, e pronto, hora de sair e buscar outros icebergs para novas fotos. Não quis interromper a sequência de avanços batimétricos, mas agora posso contar. Foi eu entrar 5 cm dentro d’água para o Welington gritar: “Tu viu?!?!?” Não, eu não tinha visto nada pois a máscara estava embaçadézima e eu estava ainda obviamente sem óculos. Diz ele que havia uma MEGAfoca poucos metros atrás de mim...Talvez tenha sido melhor não ver mesmo.





No tríptico acima, três momentos da incursão: desembaçamento da máscara, aproximação ao iceberg e o mais importante, CRT (Cheek Resistance Test)

Eduardo, feliz por estar junto a um iceberg e praticamente 95% sem frio.


Notem que com este capuz, até falar é uma tarefa cansativa, pois o neoprene entra na boca e precisa ser retirado com as luvas de elefantíase (modelito: Tato Zero). 


Eduardo se sentindo um grande bloco de gelo seco fumegante na hora da rinsagem da roupa.

À tarde era a vez de Welington tentar. Colocar a roupa foi bem mais fácil para ele, mais elástico e compacto. E a mim, cabia preparar-me para desempenhar satisfatoriamente a função de “cameraman”: calça, casaco corta vento e luvas impermeáveis The North Face, gorro brucutu, botas Caribou, e máscara de Antoine de Saint Exupéry Esta última só para constar, pois o embaçamento do óculos é tamanho, que Welington estaria mergulhando para um lado e o “cameraman” fotografando o outro. Welington queria ir na direção da Baleia do Cousteau, na esperança de deparar com alguns pingüins pelo caminho. Custamos a encontrar um ponto mais fácil para vencer a barreira de gelo, e quando o encontramos não havia icebergs magnânimos como os que eu elegera pela manhã. Mas lá foi Wé. Andou, sentou, se ajoelhou, e depois, “tchibum”. Disse que viu até umas salpas (tunicados planctônicos). Cara de sorte. Eu só vi pedras. Super dia! Roupas secando na sala “Rio 40°” e nós curtindo uma internetzinha básica, pois como bem nos alertou o Chefe Glênio, o sinal pode cair a qualquer momento e ba-bau.

E não é que caiu mesmo!MAs por sorte retornou a tempo de ainda postar isso hoje, fresquinho, ou melhor, HIPERfresco!

Welington também passando na prova, enquanto se perguntava quanto tempo será possível congelar as bochechas até que seja irreversível e sejamos forçados a partir para um desbochechamento, ou bochechotomia.


Bem ao lado da EACF, onde nesta mesma época só havia o chão de pedregulhos, esta impressionante parede de gelo.

Estações de Mergulho 2008-2009

Estações de Mergulho 2008-2009
adaptado de SIMÕES JC, ARIGONY NETO J & BREMER UF (no prelo)